Atual política externa brasileira não tem ponderação, diz Flávio Dino

23 de junho de 2020

Atual política externa brasileira não tem ponderação, diz Flávio Dino
Em entrevista ao programa Conversa Brasil, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), o governador Flávio Dino afirmou que há um sombreamento inédito na política externa brasileira que faz com que o Brasil perca em larga medida o poder brando no mundo e a capacidade de influenciar.

Segundo Dino, o Brasil perdeu as referências criadas por décadas pelo Instituto Rio Branco, como a assertividade na pauta do Direitos Humanos, a defesa da temática ambiental e o abandono de posições clássicas, como por exemplo a valorização do multilateralismo.

“Eu acho que a ruptura se verifica agora. O que de fato contrasta fortemente com a tradição da gloriosa Casa de Rio Branco é o que nós estamos assistindo neste momento. O Brasil tende hoje a se alinhar a um belicismo contra as instâncias supranacionais, supostamente priorizando acordos bilaterais, quem sabe. Creio que vamos muito mal. Basta olhar a escassez da diplomacia presidencial. Creio que na história recente do país nunca tivemos um presidente tão inepto no exercício da diplomacia presidencial”, disse Dino.

O debate online aconteceu nesta segunda-feira (22) com a mediação do jornalista Merval Pereira e do advogado e escritor Joaquim Falcão, também membro da Academia Brasileira de Letras e professor de Direito da FGV – RJ.

No seminário virtual, o governador do Maranhão apontou que a deficiência de posicionamento em relação à política externa faz com que o Brasil tenha um alinhamento automático aos Estados Unidos com escassos resultados e com muitas contradições, como quando o Brasil prometeu o que não podia fazer, ao intervir militarmente na Venezuela, o que o governador classifica como um ensaio desastrado.

“O Brasil se vê numa contramão porque a Vale e o agronegócio brasileiro – que é o principal segmento econômico que sustenta o país – precisam da China. Além disso, hoje temos dificuldade de relacionamento com o Mercosul, além da perda da importância na economia da Argentina, somado às dificuldades com a União Europeia, de modo que acredito que a ruptura acontece agora e que é preciso voltar à perspectiva grega pré-socrática de que a virtude está no meio termo. E tudo o que a política externa atual no Brasil não tem é ponderação”, assegura o governador.